quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Era para roubar e só você não sabia?

    Nazismo e bolchevismo, ou seja, o bom e velho comunismo. Parecem ser absolutamente o contrário um do outro. Acontece que a ideia geral é a mesma: Criar um sistema de leis, ideologia e, entre outras coisas uma verdadeira religião para poder roubar, para agredir o direito de propriedade e surrupiar o patrimônio do povo, principalmente os que tiverem mais um pouco. Interessante é que se pode ler muito sobre uma e outra filosofia dessas e nem desconfiar da verdadeira motivação.
    Uma pequena ressalva sobre o capitalismo nesse contexto, antes de avançar no assunto. Os capitalistas manipulam o povo oferecendo aquilo que as pessoas também prezam: dinheiro. Nesse sentido, apesar de haver a mesma manipulação, geralmente ela é feita de uma maneira um pouco mais pacífica. Em que pese toda as sacanagens dos grandes países capitalistas, não se lhes pode atribuir os crimes de assassinatos em massa, por exemplo, como os que são tão conhecidos no caso dois regimes aqui citados. Pelo menos na mesma escala em que se verificou nos dois casos aqui tratados.
    Voltando ao comunismo e o nazismo, em princípio, não se desconfia de como são políticas parecidas. O Papa Pio XI, por exemplo, já idoso e doente, não distinguia  uma coisa da outra. O ataque às religiões, a criação de um cidadão ideal (no caso do comunismo o comissário do partido que tudo podia *), o cerceamento totalitário das liberdades individuais, o confisco do patrimônio de quem o tivesse e sobretudo e o mais grave, os assassinatos em massa mostram como essas duas correntes de pensamento são parecidas.
    Quanto ao comunismo não se precisa de maiores informações para saber como agia no início. Desapropriar qualquer um que tivesse alguma condição melhor e ir alojando ali uma quantidade muito maior de pessoas do que a residência possuía era um dos modos de agir. O filme Doutor Jivago, por exemplo, mostra carinhosamente o modo como isso tudo ocorria. Restando alguma dúvida sobre como as condições de vida foram indefinidamente prejudicadas pela ação devastadora do “partidão”, pode-se ver o filme “Desde que Otar Partiu” onde se mostra uma Geórgia – o País – totalmente empobrecido por anos e anos de abusos das autoridades e falta de zelo com a população.
    Basta digitar no Youtube a expressão "love russia" e ver como é a vida no país que fez a maior bomba atômica já construída. Difícil acreditar que sejam os mesmos responsáveis por tantos vôos espaciais.
     Ainda na linha de se descrever a busca de privilégios para uma minoria, não se pode esquecer de "A República dos Bichos" de George Orwell, em que os porcos, elite da revolução, são os únicos que tem o direito a usufruir do leite e das maçãs produzidas na fazenda. Metáfora clara dos privilégios de alguns em detrimento de outros nesse tipo de politica.   
    Mas o Nazismo, com toda sua afetação e trejeitos coreografados, é que foi a princezinha assassina e mais enfeitada dos regimes políticos autoritários que, por meio de assassinatos em massa e outras artimanhas só tinha por objetivo encher os cofres de uma meia dúzia de privilegiados. O livro “Vinho e Guerra” mostra a faceta mais leve desse arroubo em tomar o patrimônio dos outros e se dar bem financeiramente.
    Neste  livro, o vinho é a mercadoria espoliada, tomada principalmente dos produtores franceses para ser comercializada na própria Alemanha e onde houvesse gente disposta a pagar. Matar os produtores talvez não fosse o mais interessante, senão a fonte secava. Então o tratamento dispensado era mais “ameno”: apenas se coagia os donos de vinícolas a transferirem toda a sua produção a um determinado coletor, militar, que arrebanhava os lucros e os dividia com os superiores.
    Mas o grosso do lucro do nazismo vinha mesmo com as mortes e as expulsões. No  livro o “vaticano e o Terceiro Reich” fica claro que nem só os judeus foram roubados. Qualquer um que pudesse ter seu patrimônio tomado com a desculpa de não ser ariano ou nazista era prejudicado. Católicos Alemães e arianos foram presos e com certeza tiveram que pagar caro para não serem mortos, os que não o foram. Sobre os dentes de ouro, jóias e outros bens dos judeus e outros povos mortos nos campos de concentração nem é preciso especular onde foram parar. A ambição desmedida envolvia até, fato muito divulgado,  o corte dos cabelos dos aprisionados para ser aproveitado. 
    Sobre o sofrimento do povo alemão é necessário um parêntese. Para evitar os gastos com doentes mentais e outros tipos de atrofia cujos custos recaíam sobre o Estado, pelo menos 80.000 cidadãos alemães com algum tipo de problema intelectual e/ou genético, inclusive crianças,  foram mortos antes que a Segunda Guerra começasse.
    O filme  “A Lista de Schindler” mostra a voracidade econômica dos líderes políticos e empresários durante a guerra. O uso de trabalho escravo como foi mostrado no filme foi muito mais amplo do que se imagina e envolveu empresas muito famosas e que existem até hoje.
    Normalmente os filmes se limitam a mostrar os aspectos bélicos. Comparada com a falta de ética, a imoralidade e a falta de humanidade do furor dos avarentos líderes desses partidos, uma boa batalha é até um momento de franqueza e sinceridade, por incrível que pareça.
     É necessário registrar esses fatos pois muita gente se engana pensando que essas ideologias tenham aspectos apenas filantrópicos, no caso do comunismo; ou raciais, no caso do nazismo. Somente a ralé intelectual desses movimentos é que se perdia e perde na prática de uma religião e seguia e segue os ritos obedientemente e sem questionar qual a motivação principal de seus líderes. Provas há por aí, o tempo todo, de que o objetivo principal de quem levanta certas bandeiras está preocupado, da mesma  forma que os capitalistas, é em encher os bolsos de uma elite com prejuízos para a maioria.

* O comissário do partido comunista era o responsável, por exemplo, por atirar, metralhar mesmo, os soldados que se retiravam de combate para a retaguarda, fugindo da batalha. Sobre isso, ainda deve ser lembrado o belíssimo costume que os russos tinham de entrar em combate sem armas, esperando o colega da frente morrer para pegar o fuzil, por que não havia equipamento disponível para todos. Fica patente o carinho com que o ideário do partido tratava a massa humana.  

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Monteiro Lobato é racista...

    Vão acabar desenterrando os ossos de Monteiro Lobato para aplicarem algum tipo de punição!
    Uma organização do Rio de Janeiro iniciou um processo junto a um órgão público do Governo Federal contra Negrinha, livro desse autor que inclui contos não infantis e que foi publicado pela primeira vez em 1920. O responsável pela tal instituição afirma que o livro traz conteúdo racista e sexista.
    Essa entidade é a mesma que levantou a discussão, na corte suprema, sobre racismo no livro Caçadas de Pedrinho. Citar o nome seria dar a esse pessoal a publicidade que tanto buscam ao tentar denegrir a  imagem de um autor amplamente reconhecido.
   
    Censura ilegal  - Abrindo precedentes

    Interessante seria descobrir o que os levou a se arvorarem em censores de obras consagradas pelo gosto popular ao longo dos anos.
    Censura. Parece um palavrão e é. Tanto se brigou nesse país para que se pudesse escrever, musicar, cantar, dramatizar com liberdade e agora busca-se desenterrar velhos textos e expô-los à crítica e julgamento por instâncias que não estão habilitadas a emitir opinião sobre obras de arte.
    Outro ponto interessante a ser notado é que uma enorme quantidade de outras obras e autores pode ser tratada como possuindo conotação “racista” ou “sexista”. Que dizer da condição do feminino em “O Cortiço” onde uma das personagens femininas recebe um coelho em troca de serviços sexuais?
    Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala deveria, então ser totalmente proibido e tirado de circulação.
    O Filme "Fahrenheit 451" já previa coisas como essas, em que os bombeiros ao invés de salvarem vidas são encarregados de procurar livros e os destruir e prender quem lida com eles.
    Esses livros de Monteiro Lobato, que não era nenhum criminoso já estão aí há décadas e nunca haviam sido contestados... O ato chega a ser maldoso.

     A Constituição Federal

    A Constituição Federal  prevê coisas como essas, no Art. 5º:
“(...)
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;” 
(...) Mesmo a constituição sendo de 1988, seus preceitos protegem o que tiver acontecido antes dela ser criada.
“V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; “
(...) Como se poderia assegurar o direito de resposta a um autor falecido? Fica muito fácil atacar uma pessoa que não tem como se manifestar ou contestar o que está sendo dito sobre ela;
“IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;”
(...) Censura, quando havia, era feita por entidades próprias, pelo Ministério da Justiça e seus representantes LEGALMENTE encarregados disso. Hoje, qualquer um se sente no direito de querer fazer pré-julgamento do conteúdo de um autor e outro. Mais um pouco e as igrejas vão se julgar no direito de estabelecer o que vestir, comer e beber para todos os cidadãos como já acontece em alguns estados pelo mundo afora. Tudo por que não se fez nada em relação a essas “invenções” de censura criadas por entidades desconhecidas.
“X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;”    
(...) “Imagem das pessoas” não pressupõe que a pessoa esteja viva. Aliás no Direito Penal há proteção até para túmulos em respeito aos restos mortais. Que dizer então da imagem intelectual de uma pessoa que possa ser denegrida à vontade pelos exageros do politicamente correto?

    A burrice do politicamente correto

    Luiz Felipe Pondé afirma e reafirma que o exagero no politicamente correto é burrice. Resumindo o que ele diz, quem faz propaganda do politicamente correto não tem parâmetros próprios para julgar o mundo à sua volta. Desse modo, qualquer coisa que for tratada por alguém como errada passa a ter um significado nefasto para esse indigente.
   
    A motivação

    Acusar um escritor que fotografou sua época de racista só se justifica por dois motivos: ou busca de media ou busca de dinheiro. A vontade estar nas notícias pode justificar esses ataques totalmente extemporâneos a uma celebridade do nível de Monteiro Lobato e que faz parte do imaginário de todos.
    Outra possibilidade que deve ser pensada é a de que desqualificando um livro que já havia sido adquirido em grandes quantidades, abre-se a possibilidade de que seja necessário fazer novas e caras aquisições. Quem será beneficiado caso seja necessário fazer novas aquisições? De onde vêm os recursos para o funcionamento da entidade que está questionando o livro? Estariam dispostos a abrir suas contas e mostrar a origem do dinheiro para o seu funcionamento?

    Incitação

    No caso em questão, trata-se de um verdadeiro tiro no pé querer se detonar o Monteiro Lobato. Os personagens criados em suas obras sempre foram queridos por todos praticamente do mesmo jeito. Claro que existem as preferências pessoais. Mas, em geral, Tia Anastácia, Tio Barnabé e até Pedro Malazartes não são menos queridos que Dona Benta, Narizinho, Pedrinho ou Emília.
    O pior de tudo é que A PARTIR dessa discussão é que o conteúdo das obras passa a ter conotação racista. Quem quer lutar contra uma coisa errada acaba fazendo ela surgir justamente de onde o imaginário popular sequer cogitava sua existência. Para nossas crianças de todas as raças o conteúdo seria apenas leitura, se não fosse a necessidade de maldá-lo de desqualificá-lo.
       
     Conclusão  
      Seja bom ou mal o conteúdo, apagar o passado é tentar varrê-lo para debaixo do tapete e fingir que não existiu. É o que fazia o personagem principal de 1984, O Grande Irmão. O passado deve ser usado e preservado para que se possa evoluir a partir dele.
    O que se vê no caso em questão é apenas mais uma prova de que o "politicamente correto" é apenas burrice. Um livro é o retrato de uma época, de uma cultura e das diversas combinações possíveis na sociedade. Provavelmente vão querer queimar todos esses livros uma hora dessas e fazer um nazismo ao contrário... Tudo previsto no cinema e na literatura.
    Para finalizar, acrescenta-se a este texto a íntegra de uma mensagem enviada à entidade pelo autor:
“Prezados Senhores. Com que tristeza vejo os ataques dessa entidade à obra do Senhor Monteiro Lobato. Não se trata de um autor insignificante. Não se trata de um agressor indiscriminado à causa da igualdade entre os homens. Trata-se de um retratista do seu tempo. E com que talento fez o seu trabalho. A ponto de ser reconhecido e vir  a fazer parte do imaginário das crianças que fomos. Muito se perde da inocência da obra com a atribuição do título de racista. As pessoas que assistiam ao Sítio do Picapau amarelo, de que raça fossem, só ficavam as considerações de paz e educação. O racismo passa a ser atribuído por essa instituição. Nem os conhecia e quando os venho a conhecer me vêm uma impressão de que precisam fazer instância para se fazerem no mundo. Sinto Muito. Muito Mesmo.”

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Efeito scooby doo

          Como é que funciona, basicamente, todo episódio do Scooby Doo? Uma turma de garotos, andando por algum lugar, na sua “Máquina do Mistério” encontra-se com um monstro que apronta todas. Imediatamente, apesar do medão que sentem, eles começam a arranjar um meio para prender e desmascarar a assombração.
           Em seguida, depois de umas peripécias e alguns momentos de música, fugindo do “monstro” eles já têm um plano pronto e começam a se preparar para “pegá-lo”.
           A parte mais importante vem agora: O plano inicial NUNCA dá certo. As armadilhas não funcionam, o monstro não passa onde deveria passar, alguma coisa quebra, etc.
           Praticamente todos os episódios têm essa mesma estrutura.
          O interessante a se observar nisso é que a vida de muitas pessoas responde à mesma estrutura de desacerto que, em determinado momento, tende a se organizar em sucesso. Prepara-se uma carreira, pensa-se em alguma coisa, estuda-se bastante e se vai tentando progredir.
          Primeiro é o segundo grau direcionado a uma carreira específica. Um futuro dentista, por exemplo, vai procurar se dedicar, com prioridade, a matérias como química ou biologia. Os pretensos engenheiros vão curtir desarvoradamente as matérias mais específicas dessa área como a física e a matemática.
          Em seguida, o vestibular. Pura diversão! Toda a dedicação para a área que era visada não vai salvar o indigente de ter que se virar nas matérias de que “não gostava”. Pois que os mínimos são uma exigência comum e a concorrência exige que se some o máximo de pontos possível. Sábados, domingos, feriados e momentos com a família, amigos e namoradas ficam inevitavelmente prejudicados.
          Então vêm os maravilhosos anos de faculdade! Para alguns a diversão não acaba. Cigarros legais e ilegais, bebidas e noitadas passam a fazer parte do cotidiano. Outros, mais contidos e possivelmente mais bem sucedidos na carreira profissional, rendem-se menos à bagunça e passam anos de sacrifício e dedicação buscando aproveitar devidamente o tempo que têm e os recursos na tentativa de obter sucesso profissional.
           Apenas uma pequena parcela consegue “servir a dois senhores”, como dito em algum lugar da bíblia: Aprontam de todas na sacanagem generalizada e nas confusões que o ambiente escolar oferece e ainda assim conseguem atingir uma preparação mínima que lhes permita não depender tanto dos pais depois de formados.
           Tanto para uns quanto para outros, no entanto, uma regra é nítida. Quando vier o momento em que se fizer necessário obter renda, vão se virar como puderem. É a hora em que o esforço, qualquer que seja, que foi despendido, trará os seus resultados.
           Mesmo o baderneiro irresponsável, ou aos desinteressados ou mesmo incompetentes, que apesar do diploma – esse não é tão difícil de conseguir – não tem a mínima capacidade profissional, tem seus méritos. Apesar da distância existente entre obter o “canudo” e ser um profissional decente, há alguma dificuldade intelectual para conseguir se formar. Em quaisquer atividades que venham a se dedicar, ainda assim, vão estar alguma coisa à frente daqueles que não despenderam esforço algum, mesmo que seja o da “enrolação” de mestres e colegas que os tenham ajudado a terminar o curso.
           Em outros casos, o que se vê é a mudança de carreira ou de objetivos. Inúmeros são os casos de engenheiros, médicos e advogados que se voltam para a política. Profissionais liberais de cursos menos prestigiados como Ciências Contábeis, Administradores, Fisioterapia e Geografia, por exemplo, que descobrem no serviço público uma forma de serem mais bem remunerados do que se estivessem no mercado de trabalho da iniciativa privada.
           Mesmo profissionais oriundos de cursos de medicina e engenharia podem vir a encontrar um porto seguro na atividade pública onde, mais das vezes, não se lhes é exigido o que tanto se vê na iniciativa privada: que tenham “jogo de cintura” e aceitem fazer esquemas ilícitos. Exemplo é o caso de médicos que inventam problemas para seus pacientes para justificar procedimentos muito caros, junto aos planos de saúde, ou engenheiros que tem que “elaborar” planilhas de custos com preços superfaturados, como tanto se vê na media, por aí.
           Muito variadas são as formas pelas quais um profissional de uma área acaba se realizando profissional ou financeiramente em outra. O certo e indiscutível é que o esforço feito acaba retornando de alguma forma.  Isso é o Efeito Scooby Doo.
           Apesar de não ser possível prever o futuro e ainda existirem algumas possibilidades como as guerras, doenças ou crises que podem prejudicar a todos, só resta o trabalho e a produtividade como caminho para buscar a felicidade. Como disse, parafraseadamente, Nietzsche, “só a educação do caráter pela arte pode dar sentido à vida”.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Sistemas de cotas e sistema de méritos - Isonomia

      Em relação à lei que trata de cotas nas escolas é possível fazer um paralelo entre a sua aplicação e a da norma que se refere à reserva de vagas para deficientes em concursos públicos. Os conceitos de igualdade e isonomia, conforme previsto na Constituição federal não estão bem definidos no conceito popular. Com o novo dispositivo são criados novos guetos, com o surgimento de grupos isolados e que não solucionam os problemas. Há ainda a própria dificuldade, apesar das cotas, de se alcançar a preparação necessária para o bom exercício das profissões.
      Quanto à palavra igualdade, a constituição não contém tal previsão. Igualar a todos, de maneira simplória, seria desconsiderar as diferenças. Os preceitos constitucionais preveem, sim, a isonomia: tratar os desiguais de maneira adequada às suas necessidades para viabilizar as relações. A obrigação do Estado é criar condições para adequar as instituições à melhor participação possível de todas as categorias socioeconômicas, sem distinções de qualquer tipo. Mas antes disso, devem ser atendidos os objetivos a que se dispõe a instituição pública. No caso em questão trata-se de formar profissionais úteis à sociedade e com o menor emprego possível de recursos do Estado.
      Em relação a concursos públicos, por exemplo, surgem distorções como os casos em que se quer que um deficiente físico possa ser contratado como policial militar, sargento do exército ou delegado de polícia. É impensável que o Estado tenha que fazer o esforço, com o dinheiro do cidadão, de criar circunstâncias especiais para o aproveitamento de pessoas com problemas de acessibilidade nestas funções. As tarefas precípuas, nesses casos, envolvem deslocamentos rápidos e desprovidos de condições mínimas de segurança e mobilidade, além do alto risco envolvido.
      Extrapolando o problema da isonomia para o caso das cotas, vislumbram-se as duas situações que são detalhadas em seguida: o da criação de separações entre os diversos tipos de profissionais formados de uma e outra forma e o da dificuldade em forjar bons profissionais, com iguais condições. Sobretudo pelo tanto que se distanciam em termos de formação e mesmo de méritos para terem acesso ao ensino superior.
      Quanto aos guetos, só piora: mesmo o pobre, o negro, o pardo ou o oriundo de escola pública que tiver condições de igualdade para competir vai ser tratado como se sua chegada à vaga da faculdade e até a sua aprovação final tivessem sido sem mérito. Sempre se poderá invocar, como acontece nos concursos públicos, que tal pessoa só conseguiu certo diploma por ter sido “protegido” pelo sistema de cotas. Em alguns casos pode ficar estigmatizado que o trabalho desenvolvido por tal pessoa não tivesse o mesmo valor que o feito pelos outros candidatos.
      Uma das formas previsíveis de se agravar a situação poderá ser a criação de “turmas de nivelamento” visando levar o aluno da escola pública ao nível daquele oriundo de escola privada. A desigualdade ainda há de ser maior ainda devido ao nível maior exigido do aluno da rede de ensino paga que contará com menos vagas para serem disputadas. Outro quadro passível de ser visualizado é o da heterogeneidade das salas de aula em que alunos prontos a receberem a matéria pura e nova de seus cursos profissionais terão de se submeter a um custoso nivelamento em português, matemática e outras matérias básicas. Tudo custeado com o dinheiro do estado que assim deixa de atender ao princípio da eficiência citado no artigo 37 da Constituição Federal.
      Há ainda o problema da falta de qualidade inerente à massa de candidatos. Não foi plenamente divulgado e não está pacificada a existência de quantidade suficiente de alunos educados na Escola Pública e que seja capaz de preencher toda a nova demanda de alunos qualificados para obtenção de um grau universitário.
       Neste caso pode ocorrer de, havendo necessidade de se cumprir as ofertas de vagas, e fazer valer a lei, os valores mínimos ou “notas de corte” para aprovação poderão ser gradualmente reduzidos. Como consequência, mais e mais se arrisca a que o nível dos candidatos aprovados não permita a sua correta preparação com o tempo e recursos logísticos e humanos disponibilizados pela administração. Novamente a comparação é feita com os candidatos que passam em concursos como deficientes, desde a criação de cotas para essas contratações no serviço público onde ocorre o mesmo.
      Pior que a discriminação oriunda do preconceito será a constatação de que realmente não se consegue atingir, com o público contemplado pela lei, a massa crítica necessária para se igualarem aos outros profissionalmente. Claro que é previsível que haja raras e honrosas exceções, o que apenas vem a dar embasamento estatístico aos fatos apontados.
      Os concursos públicos estão aí para darem um exemplo tímido do que pode acontecer com a criação de cotas para acesso à universidade. Na busca de igualdade esquece-se da isonomia e do bom ajuste das instituições às reais necessidades do público. Na busca de inclusão, cria-se exclusão ao criar novos limites entre os que alçaram o ensino superior por méritos, até enaltecidos pela maior dificuldade que terão para o acesso, e aqueles que a ele ascenderam por se encaixarem nos pressupostos definidos pelas cotas. Pelo menos em alguns casos, haverá de constatar que os profissionais assim formados, pelo menos em parte dos casos, nunca poderão ser comparados em qualidade, mesmo depois de formados, àqueles que, já nos primórdios de sua formação profissional se destacavam pelo esforço depreendido para pleitear uma dificílima vaga no Ensino Público que “deveria” ser de amplo acesso.
      O correto, ou pelo menos, o mais moralmente correto é que se fossem buscando condições de que o nível de dificuldade para quaisquer alunos fosse o mesmo. Com ou sem as cotas, a dificuldade sempre existiu e existirá para todos. E, com certeza, o sistema de méritos sairá triunfante de todo esse embate sejam eles de que tipos forem.  

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Pequeno manual de maldades – viagens em equipes de trabalho.

Completados 16 anos de serviço no mesmo emprego, no último domingo. Nesse tempo, o cálculo é de que foram, no mínimo 160 deslocamentos ao interior do país, incluindo os estados de Minas Gerais, São Paulo, Piauí, Bahia, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Distrito Federal, Goiás, Paraná e Santa Catarina.
Vários foram os tipos de companheiros de viagem. De toda essa experiência, é possível criar um esboço de feedback geral sobre aqueles atos que mais podem criar problemas de relacionamento entre colegas. Alguns podem parecer menores e até perdoáveis. Mas ninguém comete um erro ou outro somente. Geralmente, muitos, muitos mesmo, ganham o prêmio pelo conjunto da obra e não apenas por ou outro ato mais desagradável.
Apesar de baseada em experiências no serviço público, a lista abaixo procura tratar situações que podem ser extrapoladas para outros casos semelhantes na iniciativa privada. Exemplo são as ações de um supervisor vindo de um outro estado ou da capital. Ou de um auditor interno ou mesmo de uma visita indigesta como as do tipo que podem ser feitas pela Polícia ou órgãos judiciais.
A lista abaixo não consegue cobrir sequer uma parte do que a imaginação do chato pode criar para testar a paciência do companheiro de viagem. Mas espelha bastante do que se tem visto por aí...
  Poderia se pensar numa classificação por ser o problema ligado ao humor ou à incapacidade de lidar com o horário ou pura falta de empatia. Acontece que grande partes dos casos é uma combinação de todos esses componentes.
Excesso de exação – O trabalho tem que ser feito na exata medida do que foi solicitado. É claro que existe uma diferença de postura até mesmo em um só indivíduo quando exposto a situações semelhantes. Mas não é possível aceitar gratuitamente que se tente impor autoridade além daquela que já é dada pelas circunstâncias, cobrando coisas para as quais não se esteja devidamente autorizado.
Criação de procedimentos injustificados –Todo trabalho tem um escopo pré-definido. Ao se atribuir uma missão a um empregado, ou a um servidor público, as chefias já efetuaram um planejamento do que deve ser feito naquele trabalho. Deste modo não é aceitável que se vá estendendo indefinidamente as teias do trabalho efetuado a áreas que não estejam diretamente relacionadas ao objetivo pretendido.
Atraso por motivos supérfluos – Esse é o bom e velho atraso, mesmo. Por mais que seja justificado, tem que ser do conhecimento do colega. Estando ambos hospedados num hotel, por exemplo, não cabe dar no colega um “chá de cadeira” sem a mínima explicação e sem se preocupar de que o tempo vá ficando curto para que possam ser cumpridas todas as etapas previstas.
Enrolar para sair depois do horário que seria o do trabalho normal - Geralmente, o trabalho é planejado para que seja executado dentro do período normal em que seria executado no ambiente normal de serviço. Não é por estar em viagem e pelo indivíduo, excepcionalmente, ser o encarregado pelo grupo que novas normas possam ser inventadas pelo responsável pelo grupo. Claro que cabem as honrosas exceções em que não se poderia agir de outra forma como grandes deslocamentos, vôos noturnos ou visitas que invadem a noite.
Abuso de autoridade – Mesmo na iniciativa privada pode se visualizar a situação. O chefe, ou a patroa se acha no direito de xingar o empregado, desmerecer seus feitos e falar dele em público. Nas visitas a trabalho não cabe ao  indivíduo investido de qualquer autoridade querer “passar um pito” nos trabalhadores visitados. No serviço público isso fica mais patente pois deve se atender ao princípio da impessoalidade no sentido que não se está autorizado a tomar postura de julgador, de senhor da verdade perante as pessoas que estão sendo visitadas.
Adiantar o horário combinado – Todos possuem um planejamento próprio baseado nos combinados do grupo. Caso se tenha combinado que todos sairiam às 08 horas, a abordagem antecipada a qualquer integrante da equipe é abuso de autoridade, é mudar as regras do jogo unilateralmente.
Querer sair muito cedo – Por incrível que possa parecer a algumas pessoas, motoristas dormem, são pessoas e a maioria, a grande maioria, mora longe. E alguns podem ter fases de insônia, como qualquer pessoa normal. Mesmo no caso de quem não vai dirigir pode se imaginar que a pessoa queira tomar café no horário do hotel, sem ter que improvisar no quarto, por exemplo. Quando se propõe um horário para sair, principalmente no caso de grandes deslocamentos, toda a logística deve ser pensada, inclusive nestes aspectos.
Delonga dos trabalhos – infelizmente, muitos profissionais não sabem a hora de parar. Desconhecem o momento a partir do qual o trabalho já está feito. Deve-se ter em mente o produto final: produzir um relatório? Fazer uma apresentação para um grupo? Já há subsídios para que se possa obter tais resultados? Então dê descanso às pessoas, inclusive a si mesmo.  Confira quantas vezes quiser se tudo foi feito, mas tente ter um pouco de empatia e perceber que já acabou e é hora de ir embora.
Reclamações constantes -  Tudo foi devidamente combinado: Tal carro será usado, serão tantos dias de viagem, a hospedagem custará tanto, aquela cidade não possui instalações muito confortáveis. De nada adiantam as previsões: É chegar a campo e começa a reclamação: Que trabalho pesado! Que hotel caro! Quantas visitas! Comida ruim! O ouvido do colega não é lixo para você ficar jogando sujeira verbal. Não. Atenha-se ao que foi combinado e obtenha o melhor possível dos recursos disponíveis. Caso necessário, faça uma reavaliação dos trabalhos e submeta-a aos supervisores. Sobretudo não fique com lenga-lenga enchendo o ouvido do colega.
Falta de estudo não compensada pela experiência no trabalho – satisfeito ou não com as condições do trabalho, com problemas em casa ou não, cansado ou descansado; a obrigação de quem se diz profissional é estar preparado para realizar a contento o trabalho que deve ser feito. Claro que muitos profissionais já estão calejados de ver pedidos repetitivos saindo das mesmas fontes. Mais cuidado deverão ter então para recolherem o material que lhes permitirá executar a contento a tarefa programada. No caso de novatos, ou pessoas com dificuldades na execução de trabalhos novos é importante fazer o dever de casa. Não é o caso de se ater especificamente à norma escrita, ao que já foi formalmente tratado e sistematizado. Mas é o caso de se atentar à postura de chefes e colegas sobre o que lhe está sendo solicitado e estudar os trabalhos prontos, ser for o caso, para aprender o que está sendo cobrado.
Abusar dos recursos da instituição visitada – Muitas e muitas profissões não são visadas por interessados em praticar corrupção. Nestes casos, entretanto, pode acontecer de o profissional ser tão anti-ético quanto se fosse corrupto ao aceitar benesses indevidas das instituições que são o objeto do seu trabalho. No serviço público existem códigos de ética que explicitam valores e condições para quem uma ou outra cortesia possa ser aceita. Um café, água, ou mesmo um lanche que também esteja disponível aos empregados da instituição nunca deveria ser motivo para uma indisposição entre a equipe e a instituição visitada. Mas caso se constate que estão sendo feitos gastos excessivos como festas, pagas hospedagem ou outras situações semelhantes, realmente já se configura o abuso. Claro que a cultura organizacional deve definir com maior exatidão o que se configura como certo. Em todos os casos deve-se ter cuidado para que a boa autoridade, o poder de intervenção e de juízo não seja prejudicado pelo benefício recebido.
Querer escolher tudo para o outro: restaurante, hotel, horário de sair – Muitas pessoas, em mesmo nível hierárquico, julgam-se no direito de escolher para o outro. A arte mais difícil nesse caso é saber conceder ao outro o direito de optar pelo que melhor lhe aprouver. Haverá pessoas que queiram ficar em lugares mais simples, comer gastando menos e em locais mais modestos durante as visitas. Outros irão querer otimizar o custo-benefício do gasto efetuado ou dos recursos. Cada um tem o direito de fazer como quiser. Pode-se “pagar para trabalhar” quando se paga mais para estar em um outro município do que o valor recebido como indenização. Pode-se também, como em muitos casos, procurar os locais mais mal frequentados das cidades para se hospedar com pouco dinheiro e é claro, assumindo todos os riscos pela vizinhança perigosa. O importante é não criar problemas devido às diferenças de gosto.
Querer sair tarde da entidade – Trata-se de um tipo muito comum de abuso de autoridade. Que gosto não têm certas pessoas de fazer o mundo circular à sua volta? Deixar funcionários,  mães, pais, professores que trabalham à noite sem cumprir seus compromissos por que o “pequeno deus” está lhes fazendo uma visita. Bem justificado, tal fato nem merece maior consideração e é comum de acontecer. Mas é muito desagradável e até perigoso para o bom relacionamento entre entidades diferentes que os empregados de uma se julguem no direito de interferir, também, no horários e outras regras internas de funcionamento.
Mudança de humor – Caso não goste de piadas de um tipo ou de outro, ou de nenhuma, deixe isso claro para os companheiros. Não comece uma viagem ou mesmo um trabalho de forma descontraída e informal e queira mudar no meio para uma atitude mais reflexiva e mal humorada. As pessoas não são culpadas de possíveis problemas que possam te estar atormentando. Sobretudo, se você necessitar de informações e outros tipos de colaboração das pessoas, não mantenha uma expressão fechada e queira que as pessoas se abram para você.  Não caia na história do “Marido Traído” da piada, aquele cara que era tão bravo no prédio em que morava, que ninguém teria a mínima abertura para contar sobre as várias visitas masculinas que a esposa recebia...
Os vícios – nenhum impulso incontido deve prejudicar o trabalho ou mesmo o bem estar dos colegas. Nos dias de hoje é impensável a possibilidade de se acender um cigarro num veículo. O álcool também deve ser bem controlado de modo a não impor o cheiro ou o mal hálito a ele inerentes a um colega com quem se vai dividir um computador ou a um interlocutor, por exemplo. Em alguns casos até a boa autoridade fica comprometida pela falta de postura do indivíduo que possui um vicio.
Dirigindo o veículo da equipe – Ao atrever-se a dirigir o veículo, mesmo que devidamente autorizado, deve-se evitar ser muito lerdo ou muito afoito: Se você vai dirigir, o seu colega passa a ser um cliente, alguém que está recebendo um serviço ou pelo menos teria direito, a ter um serviço como seria o de um motorista profissional, ou o mais próximo disso. Portanto não cabe dirigir como se estivesse só no veículo. A velocidade deve ser negociada, o caminho deve ser combinado e todos os detalhes devem ser conversados para que o companheiro de equipe não seja obrigado a reclamar com o suposto motorista ou pior ainda, com os outros colegas, à revelia do culpado.
Analisando cada um dos pontos tratados pode-se ver que um pouco de empatia já resolveria muita coisa: colocar-se no lugar do motorista que em certos casos tem que acordar às 3, 4 horas da manhã para atender o “Senhor de Escravos” às 6 horas. Colocar-se no lugar do colega que tem uma vida além do trabalho e que gosta de usar o máximo o tempo que lhe foi concedido como descanso. Colocar-se no lugar do profissional que está sendo visitado ou fiscalizado para ver como é a sua verdade e até que ponto é possível identificar incompetência ou má-fé, ou simplesmente um caso fortuito naquilo que é  negativo do trabalho verificado. Até aumenta-se a possibilidade, principalmente neste último caso, de se acrescentar novas informações e, portanto maior valor, ao trabalho final.
Ater-se aos combinados. Parece coisa de escola infantil E é. É nos primórdios da educação como indivíduo que se aprendem coisas como cumprir combinados, horários e não mudar a palavra empenhada. Não se trata de uma questão de bondade gratuita e altruísta, mas de simples bom senso e prevenção contra as consequências das condutas indevidas.
A partir do que foi escrito já é possível fazer uma autocrítica e tentar contornar certos defeitos ou pelo menos compensá-los. As consequências são variadas para quem não se esforça em aceitar e respeitar o companheiro de viagem. Ele pode não ser recomendado em um próximo trabalho, pode acontecer um entrevero ou coisa mais grave. O pior contudo, considerando um dos objetivos gerais que é não desperdiçar recursos, é o caso de não se conseguir realizar o trabalho devido ao choque de ideias e comportamentos não negociados.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Rapina do Caos: Em busca das soluções ou apenas mais um meio de vida?


Ponha-se a imaginação para funcionar um pouco:
Então tá, agora a solução foi encontrada!!! Não existem mais problemas relacionados à pobreza, ao meio ambiente, à segurança no trânsito, aos movimentos sem-terra, ao patrimônio histórico e tantas outras causas para serem discutidas... Quase não há vícios. O politicamente recolheu-se à insignificância correspondente ao embotamento mental dos que o defendem calorosamente mas sem soluções realmente práticas.
Agora vive-se em um mundo sem grandes mazelas em que não é necessária a intervenção apavonada de órgãos de defesas dos interesses dessa ou daquela classe. Não! Os protagonistas, engravatados ou não, estão impedidos de irem à media com seus discursos inúteis e aleijados de soluções práticas e/ou eficientes.
Nesse admirável mundo novo, não se carece de quase nenhuma produção científica que trate vezes e mais vezes do mesmo assunto sem acrescentar nada e sem apresentar propostas práticas. A ciência adequa-se muito a isso por já envolver em certa conta, um natural reciclamento do que já se foi, com pequenos acréscimos reais a cada geração.
Nessa imaginação toda, vive-se num mundo em que não cabem mais embates de classe pois todas estão bem resolvidas. Não há como se ficarem fazendo grandes reuniões, congressos caríssimos pagos com o dinheiro do consumidor pelo Estado e pagando diárias e mais diárias relacionadas aos deslocamentos de servidores públicos.
O que restaria então a esse mundo enorme de pessoas para as quais a única razão da existência são os problemas? O que sobraria do GreenPeace se não houvesse tanto risco, sempre, ao meio ambiente? Por que então procurar soluções práticas de verdade? O problema se torna mais grave quanto menos forem amadurecidas as instituições e as sociedades que as servem de berço.
O bom é fazerem-se reuniões, congressos e mais congressos em que se propõem metas impraticáveis por pessoas que não estão diretamente envolvidas com as áreas que criticam. Vive-se disso!
Não! O correto é continuar-se a busca de soluções! Vamos fazer uma reunião local, hoje, para votar uma proposta. O resultado desse trabalho será consolidado em pequenas unidades regionais que serão depois de votadas, levadas a uma esfera um pouco maior para que se possa, após vários congressos e reuniões técnicas e grandes gastos, chegar à produção de um documento com as demandas comuns ao grupo em geral. De preferência que tais deslocamentos sejam feitos a locais paradisíacos cuja simples aceitação em participar já seja um cala-boca em algum grupo que quiser se insurgir.
Então o grupo estará pronto para criar uma nova agenda de novos encontros e novos gastos que vão propiciar a efetivação – Opa!!! Agora sim, uma ação? Será? - de um encaminhamento de uma nova rodada de congressos para organizar um seminário nacional em que serão votadas as propostas daquele ano.
No ano seguinte, novamente, o processo se há de iniciar do princípio, perfazendo todas as fases já citadas e, de preferência, incorporando novos procedimentos que redundarão em absolutamente nada de ações efetivas na implementação de práticas reais de melhoria daquilo que, supostamente, seria o foco das tais reuniões e de tudo mais que foi feito.
No meio do caminho: Cargos e mais cargos públicos e semipúblicos são criados, sustentados e supridos com a força da existência do problema que levou à sua criação. Egos e vaidades são elevados e rebaixados com base nos jogos de interesses políticos que rondam cada uma dessas esferas de “rapina do caos”. Textos e mais textos vão sendo reciclados com as mesmas ideias e tratando apenas dos diagnósticos capengas, desprovidos de senso prático que já haviam sido feitos anos e anos atrás.
Tudo bem! A sociedade precisa existir. Precisam ser criados empregos. Está totalmente justificado esse círculo vicioso que é premiar a incompetência de alguém com a manutenção do seu emprego unicamente devido à continuação dos problemas. É como nos jogos de computador com construções de cidades: O povo precisa se ocupar. A economia precisa estar constantemente em movimento.
Talvez, mais tarde, um dia, tais instituições, ou melhor, esse sistema de instituições que se interligam entre o Estado e a sociedade alcancem algum amadurecimento. A cada ação, necessariamente, se ligará uma consequência prática. Talvez já seja assim em alguns países e em alguns esquemas de produção de conhecimento e de busca de soluções. Sobretudo nas empresas onde não se perdoa a inação a não ser que ela redunde em marketing.
Marketing: Esse, é enfim o que justifica tudo: A propaganda pessoal e institucional é mais importante que as soluções verdadeiras e garante os empregos, os postos, as vaidades e os egos...
Um dia cresce-se para a direção certa... Mas quando???

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Alguns tipos encontrados nas academias de ginástica

Tempos e tempos de academia e horas e mais horas em cima da esteira podem garantir uma visão cômico-trágica interessante a respeito dos tipos que por ali vagam. Interessante é ver os pontos fracos e os lugares comuns em que nos encaixamos e tentarmos não ser motivo de piada. As exceções que houver, apenas confirmam as regras. A enumeração abaixo não é exaustiva mas, sim, busca representar uma boa parte da fauna que vai a uma academia de ginástica... 
1 – O bombadão: há tempos não se vê dele nenhuma expressão de inteligência. Conversar ou interagir somente se for para tratar de novos tipos de suplementos ou novas séries  de exercícios. Costuma fingir que está olhando as gatinhas, só para que alguém pense que seus hormônios ainda funcionam. Difícil é explicar como tem dinheiro para gastar com forma física se o intelecto é no máximo o bastante para fazer trabalhos braçais;
2 – Gordinho Ciumento é aquele aluno que leva todo o jeito para três tipos de atividades: tomar cerveja no bar o final de semana inteiro, jogar 10 minutos de pelada com a turma antes de encher a cara e ser socorrido pelo SAMU quando tiver um enfarte. Mas ele tem que ir à Academia para tomar conta da patroa. Mais comum é que a moça esteja em boa forma e ele fique lá, orbitando ao seu redor e vigiando para que nenhum atrevido a aborde. Divide-se em envergonhado, quando pelo menos usa um short e tênis para acompanhar a moça e; Escancarado quando a fica vigiando de longe, fora da área das esteiras ou da musculação;
3 – A oncinha esportista: estando em boa forma, ou não, ela vai usar sempre a calça leg mais apertada com motivos de oncinha. A única variação possível é estampa de cobra. Algumas vezes pode estar acompanha do ciumento, que vamos ver a seguir ou do bombadão e nesse caso, sempre conversam num idioma gutural ainda não sistematizado pelos linguistas;
4 – A patricinha pré-obesidade mórbida: com o peso ligeiramente acima do normal, ela sabe, todos na academia sabem e a torcida do flamengo toda sabe que ela nunca vai malhar direito. Geralmente 95% do tempo gasto na academia é dedicado a um nada misturado com um pouco de conversa inútil com outras patricinhas. Vai rapidinho para casa pois não pode perder a próxima novela e ainda tem que ligar para as amigas para conversar mais um pouquinho sobre absolutamente nada importante. Está entre os tipos que mais ocupam aparelhos sem estarem fazendo nada;
5 – O faxineiro: aquele aluno que limpa todos os lugares que vai se sentar, com aquele paninho e a garrafinha de alguma coisa que a academia deixa à disposição. Limpa inclusive a esteira, onde não vai nem encostar. Caso se trate de um ser do sexo masculino, pode ser um grande indício de que debaixo do short vai uma bela cuequinha rosa. A patricinha mórbida se encaixa aqui, quando não é preguiçosa demais até para limpar onde vai sentar;
6 – Aluno-malhação: Vai à academia para fazer musculação. Mas tem que encher o saco do professor para colocar no canal de novelas. Fica 3 minutos na esteira para aquecer e sai logo em seguida. Sai dali para o primeiro aparelho mas já leva 5 minutos até fazer a primeira série de exercícios;
7 – Casal gay no armário: Dois caras aparentemente machos que malham sempre juntos. Inconscientemente, um está disputando a condição de macho alfa do casal com o outro. Coitado do cristão que se atrever a usar um aparelho ou encostar em qualquer coisa que estiverem usando. Inevitavelmente o mais forte vai se projetar em sua direção e lhe mandar um monte de impropérios;
8 – Escravo moderno: só vai para a esteira com dois celulares, pochete passada no pescoço ou com um “ajudante” do lado que fala ao seu ouvido o tempo todo avisando que o horário para resolver isso ou aquilo já está estourado.  Recebem várias ligações durante o pouco tempo que resistem a ficar na academia. Podem ser, por exemplo, maridos com pouco tempo de casados e de preferência com mulheres sedentárias que ficam loucas por qualquer motivo para deixar a academia. Podem também serem mães solteiras com filhos grandes e ainda não desmamados que ficam implorando pela hora de comprar aquela milionésima pizza de presunto e para irem embora jogar videogame;
9 – Casal animado: Casal com pouco tempo de casado e cuja ficha já caiu que estão engordando muito. Vão à academia juntos e um geralmente é mais disciplinado e quer fazer as coisas bem feitas. O outro por sua vez, não vê a hora de ir comer e cumprir o resto de sua missão de transformar o outro num caso seríssimo de obesidade mórbida. Nesses casos, geralmente, o que tem mais disciplina passa a fazer o papel de escravizado já tratado acima;
10 – Aluno choque cultural: Às vezes já tem anos de academia mas nunca enxergou ninguém suado de verdade.  Alguém desce da esteira realmente suado e ele não acredita no que está vendo. Trata-se de uns bons 30% da academia que não sabem nem guardar a expressão de espanto quando vêem alguém muito suado. Neste caso pode se misturar com vários outros tipos aqui representados.
Mais importante que a variedade em certos casos é analisar o que há em comum em todos: a vontade sair do zero e chegar em algum lugar. O que os diferencia e isso cabe a todos os seres humanos em maior ou menor grau é a maturidade com que encaram seus objetivos apesar das limitações morais e físicas...

terça-feira, 3 de abril de 2012

Politicamente correto é fascismo dIsfarçado

           O Fascismo "seleciona e dizima o ser inferior e seleciona os bravos, os fortes.". Sendo assim, quando se vão dispondo que o correto é reciclar o lixo, de não se deve fumar, de que não se deve beber, de que se deve dirigir o mais devagar que se puder. Andar armado então, já é crime só em se cogitar. Nesse clima, em que todas as liberdades individuais são questionáveis percebe-se que se vai criando um tipo ideal de cidadão que é o que interessa ao Estado. 
            O disfarce surge da máscara de bondade com que os políticos se vestem para aplicar essa receita ao povo. É muito fácil que mesmo os melhores políticos, os que possuem uma história de boas lutas, de boas conquistas para a comunidade venham a ser fisgados pela ambição de querer legislar sobre a vida das pessoas. Esse carisma que esses políticos bem recomendados utiliza para impor ao povo os seus ditames é muito característico do fascismo: Hitler se ancorou nisso para subir e o mesmo aconteceu na Itália, só que de forma menos velada e mais sistemática.  
            As intenções são sempre as melhores possíveis: evitar o risco de bêbados (mesmo os que não fizeram mais que dividir uma garrafa de vinho com a esposa); evitar o consumo indireto de cigarro pelos passantes nos parques e outros ambientes abertos; que as sacolas de plástico não entupam os esgotos. Também se espera que os deslocamentos de carro sejam ainda mais lentos mesmo quando o trânsito o permite, o que é raro. 
            Porém outros interesses também são bem atendidos: Os amigos dos amigos são os escolhidos para vender as sacolinhas de plástico degradável. Os radares são operados por empresas terceirizadas com contratos duvidosos dos quais nunca se sabem os detalhes todos e que em anos de eleição se tornam mais evidentes e cínicos ainda. Só faltam terceirizar a fiscalização do fumo e da bebida para que possam dirigir "melhor" o destino dos lucros auferidos. Todos os dias surge um novo selo, uma nova forma de controle dos procedimentos INTERNOS das empresas que só vem a enriquecer um monte de gente que interferiu positivamente naquele processo de aumento das rendas da turminha. 
            Com tudo isso, vão se revelando outros aspectos de semelhança com o fascismo: Não se trata de marxismo, não se trata de liberalismo, trata-se de criar uma elite de grandes recebedores de recursos que faz a gestão em alto nível dos sistemas implantados sobre a crença popular. Por outro lado, no meio do populacho, se vai criando a imagem ideal de um cidadão: aquele que não bebe, não fuma, recicla seu lixo, tem dois, três carros e ainda dá caronas para o trabalho, compra tudo com selos e mais selos que são criados o tempo todo.  
           Sobretudo, esse cidadão ideal desconhece o mal que se abate sobre sua própria carne, a exemplo dos melhores homens e mulheres que se negavam a ver as atrocidades do fascismo na Itália e na Alemanha. É aguardar e ver aonde se vai chegar.

            

sexta-feira, 23 de março de 2012

A desigualdade é constitucional, basta empregá-la

Mais e mais notícias se acumulam dando nota dos crimes bárbaros que acontecem todos os dias. Também todos os dias são veiculadas notícias sobre a ação de grupos ligados ao politicamente correto e que tentam a todo custo preservar o ideário de que mesmo esses criminosos merecem ser tratados à mesma maneira de seres humanos. Mas não é assim que deveria ser.
A nossa Constituição Federal de 1988 prevê a isonomia, ou seja, tratar os desiguais de maneiras diferentes. É assim que se tem garantido os direitos das minorias, o acesso gratuito a alguns serviços e tantos outros benefícios sociais cuja existência já está arraigada no inconsciente coletivo do nosso povo como é o caso do bolsa família.
Da mesma forma, com a desigualdade nos mesmos moldes,  deveria ser o tratamento dado a esses bandidos que cometessem crimes bárbaros, hediondos e outros que assim se queira classificar. Nesse ponto é ainda necessário que se enquadre a corrupção nesses crimes, pois o desvio do dinheiro público é, em última análise, um crime contra as milhares de crianças e outros possíveis beneficiários que poderiam ter uma vida melhor se o dinheiro público não fosse tão roubado. Cometem-se tais crimes ainda contra os contribuintes que são plenamente conscientes de que seu dinheiro está indo para o ralo.
Somente com a ameaça de trabalhos forçados, penas perpétuas ou penas de morte é que tais crimes poderiam ser coibidos. Mortes com requintes de crueldade, por motivos os mais fúteis existentes e outras aberrações de comportamento deveriam ser objeto de reprimenda exemplar do estado.
Sobretudo, aqueles que os cometeram não poderiam ser enquadrados como seres humanos, almejando receber as mesmas benesses de um sistema legal que tem que atender à massa em geral. Deveriam, sim, pagar cada dia de sua existência com trabalho para que o povo cuja existência é ameaçada pela sua existência não tenha que arcar com esses gastos. Privilegiado estaria o bem coletivo, da imensa maioria das pessoas que procuram fazer bem, o melhor de suas vidas.
Nem deveria ser necessário falar que o julgamento, a ampla defesa e o contraditório deveriam estar garantidos duplamente aos suspeitos, antes que se pudesse vir a classificá-los nessa categoria de quase gente.
Talvez assim, fossem menos noticiados tantos crimes torpes, com violência exagerada e sem motivação. Os criminosos que diminuíram a condição de ser humano com seus atos animalescos não deveriam ser tratados com a mesma humanidade que o cidadão de bem. Quando este tipo de agente é tratado como sendo humano, a humanidade toda é que é diminuída.

quinta-feira, 22 de março de 2012

É perda de tempo - Sindicatos e associações

Adultos e crianças são diferentes. Mas em alguns pontos e alguns sentidos, muitos adultos ainda estão perdidos na infância da falta de conhecimento e da ilusão a respeito de um assunto ou outro. As associações e sindicatos são um ótimo tema para servir de exemplo. Mais interessante ainda é extrapolar as observações para outras situações de nossa vida.
A função dos sindicatos é brigar pelos interesses dos seus associados, oferecer alguns serviços, mas, principalmente responder por eles de forma institucional e organizada zelando tanto pelas condições salariais quanto do exercício da profissão. Isoladamente, a força de um pequeno grupo e a de uma única pessoa muito pouco pode fazer diferença em comparação com àquela que se pode obter de uma instituição ou de um grupo maior, coeso e institucionalizado, isto é: com personalidade jurídica e com a autoridade que lhe é conferida pela estrutura legal e pela adesão de seus associados.
Parece óbvio mas não é. Todas as vezes que se admite um funcionário ou um servidor público parece que há um retorno ao berço e se torna necessário ficar explicando tudo de novo. Acontece que existem pessoas que não estão dispostas mais a ficar malhando em ferro frio. Quem não se sindicaliza é um indigente institucional e ficará sempre à margem das decisões tentando pescar, sorrateiramente, alguma vantagem ou alguma informação que o sindicato ou associação puder lhe conceder.
Em algumas atividades a contribuição mensal para participação nessas associações é de 0,8% do valor do salário mensal. Mesmo nas categorias profissionais com maiores salários, inclusive do serviço público, tais valores não são o bastante nem para encher o tanque do carro. Mesmo assim as discussões são longas sobre se associar ou não. E as desculpas são as mais variadas possível, chegando a ser cômico observar a criatividade para argumentação daqueles que não querem se associar.
"Ah, mais esses dirigentes roubam!", "Ah, mais eu consigo obter mais desse dinheiro." "Eu nunca utilizo os serviços do sindicato." e por aí vai. Para cada um desses argumentos, caso houvesse custo benefício em tratá-los um a um, poderia se apresentar inúmeros motivos para que ainda assim fosse interessante se associar.
Mas o importante mesmo é verificar que as razões primordiais são a avareza de não compartilhar, de aproveitar o máximo possível do salário recebido e a cegueira de não perceber os benefícios indiretos de ser associado. Em algumas carreiras do serviço público, por exemplo, o ganho real obtido e negociado pelos sindicatos é superior a 30% reais, em 10 anos. Não se pode cogitar que tais ganhos sejam fruto da mera liberalidade dos responsáveis pelos orçamentos.
Fica patente então a desinformação voluntária a que se atira um empregado ou um servidor que não se associa. Ele deve negar, mesmo que se expondo a argumentações ridículas, a ligação entre os ganhos recebidos e deve se esforçar continuamente para encontrar motivos para diminuir a importância do sindicato na obtenção, ou no mínimo na manutenção das atuais condições salariais e de trabalho que possui.