quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Monteiro Lobato é racista...

    Vão acabar desenterrando os ossos de Monteiro Lobato para aplicarem algum tipo de punição!
    Uma organização do Rio de Janeiro iniciou um processo junto a um órgão público do Governo Federal contra Negrinha, livro desse autor que inclui contos não infantis e que foi publicado pela primeira vez em 1920. O responsável pela tal instituição afirma que o livro traz conteúdo racista e sexista.
    Essa entidade é a mesma que levantou a discussão, na corte suprema, sobre racismo no livro Caçadas de Pedrinho. Citar o nome seria dar a esse pessoal a publicidade que tanto buscam ao tentar denegrir a  imagem de um autor amplamente reconhecido.
   
    Censura ilegal  - Abrindo precedentes

    Interessante seria descobrir o que os levou a se arvorarem em censores de obras consagradas pelo gosto popular ao longo dos anos.
    Censura. Parece um palavrão e é. Tanto se brigou nesse país para que se pudesse escrever, musicar, cantar, dramatizar com liberdade e agora busca-se desenterrar velhos textos e expô-los à crítica e julgamento por instâncias que não estão habilitadas a emitir opinião sobre obras de arte.
    Outro ponto interessante a ser notado é que uma enorme quantidade de outras obras e autores pode ser tratada como possuindo conotação “racista” ou “sexista”. Que dizer da condição do feminino em “O Cortiço” onde uma das personagens femininas recebe um coelho em troca de serviços sexuais?
    Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala deveria, então ser totalmente proibido e tirado de circulação.
    O Filme "Fahrenheit 451" já previa coisas como essas, em que os bombeiros ao invés de salvarem vidas são encarregados de procurar livros e os destruir e prender quem lida com eles.
    Esses livros de Monteiro Lobato, que não era nenhum criminoso já estão aí há décadas e nunca haviam sido contestados... O ato chega a ser maldoso.

     A Constituição Federal

    A Constituição Federal  prevê coisas como essas, no Art. 5º:
“(...)
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;” 
(...) Mesmo a constituição sendo de 1988, seus preceitos protegem o que tiver acontecido antes dela ser criada.
“V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; “
(...) Como se poderia assegurar o direito de resposta a um autor falecido? Fica muito fácil atacar uma pessoa que não tem como se manifestar ou contestar o que está sendo dito sobre ela;
“IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;”
(...) Censura, quando havia, era feita por entidades próprias, pelo Ministério da Justiça e seus representantes LEGALMENTE encarregados disso. Hoje, qualquer um se sente no direito de querer fazer pré-julgamento do conteúdo de um autor e outro. Mais um pouco e as igrejas vão se julgar no direito de estabelecer o que vestir, comer e beber para todos os cidadãos como já acontece em alguns estados pelo mundo afora. Tudo por que não se fez nada em relação a essas “invenções” de censura criadas por entidades desconhecidas.
“X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;”    
(...) “Imagem das pessoas” não pressupõe que a pessoa esteja viva. Aliás no Direito Penal há proteção até para túmulos em respeito aos restos mortais. Que dizer então da imagem intelectual de uma pessoa que possa ser denegrida à vontade pelos exageros do politicamente correto?

    A burrice do politicamente correto

    Luiz Felipe Pondé afirma e reafirma que o exagero no politicamente correto é burrice. Resumindo o que ele diz, quem faz propaganda do politicamente correto não tem parâmetros próprios para julgar o mundo à sua volta. Desse modo, qualquer coisa que for tratada por alguém como errada passa a ter um significado nefasto para esse indigente.
   
    A motivação

    Acusar um escritor que fotografou sua época de racista só se justifica por dois motivos: ou busca de media ou busca de dinheiro. A vontade estar nas notícias pode justificar esses ataques totalmente extemporâneos a uma celebridade do nível de Monteiro Lobato e que faz parte do imaginário de todos.
    Outra possibilidade que deve ser pensada é a de que desqualificando um livro que já havia sido adquirido em grandes quantidades, abre-se a possibilidade de que seja necessário fazer novas e caras aquisições. Quem será beneficiado caso seja necessário fazer novas aquisições? De onde vêm os recursos para o funcionamento da entidade que está questionando o livro? Estariam dispostos a abrir suas contas e mostrar a origem do dinheiro para o seu funcionamento?

    Incitação

    No caso em questão, trata-se de um verdadeiro tiro no pé querer se detonar o Monteiro Lobato. Os personagens criados em suas obras sempre foram queridos por todos praticamente do mesmo jeito. Claro que existem as preferências pessoais. Mas, em geral, Tia Anastácia, Tio Barnabé e até Pedro Malazartes não são menos queridos que Dona Benta, Narizinho, Pedrinho ou Emília.
    O pior de tudo é que A PARTIR dessa discussão é que o conteúdo das obras passa a ter conotação racista. Quem quer lutar contra uma coisa errada acaba fazendo ela surgir justamente de onde o imaginário popular sequer cogitava sua existência. Para nossas crianças de todas as raças o conteúdo seria apenas leitura, se não fosse a necessidade de maldá-lo de desqualificá-lo.
       
     Conclusão  
      Seja bom ou mal o conteúdo, apagar o passado é tentar varrê-lo para debaixo do tapete e fingir que não existiu. É o que fazia o personagem principal de 1984, O Grande Irmão. O passado deve ser usado e preservado para que se possa evoluir a partir dele.
    O que se vê no caso em questão é apenas mais uma prova de que o "politicamente correto" é apenas burrice. Um livro é o retrato de uma época, de uma cultura e das diversas combinações possíveis na sociedade. Provavelmente vão querer queimar todos esses livros uma hora dessas e fazer um nazismo ao contrário... Tudo previsto no cinema e na literatura.
    Para finalizar, acrescenta-se a este texto a íntegra de uma mensagem enviada à entidade pelo autor:
“Prezados Senhores. Com que tristeza vejo os ataques dessa entidade à obra do Senhor Monteiro Lobato. Não se trata de um autor insignificante. Não se trata de um agressor indiscriminado à causa da igualdade entre os homens. Trata-se de um retratista do seu tempo. E com que talento fez o seu trabalho. A ponto de ser reconhecido e vir  a fazer parte do imaginário das crianças que fomos. Muito se perde da inocência da obra com a atribuição do título de racista. As pessoas que assistiam ao Sítio do Picapau amarelo, de que raça fossem, só ficavam as considerações de paz e educação. O racismo passa a ser atribuído por essa instituição. Nem os conhecia e quando os venho a conhecer me vêm uma impressão de que precisam fazer instância para se fazerem no mundo. Sinto Muito. Muito Mesmo.”

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