quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Santa Maria com um humor e vários jardins

         Um artigo do Yahoo! teceu uma crítica a respeito das charges publicadas em jornais e que tratavam da Tragédia ocorrida em Santa Maria no Rio Grande do Sul. Entre os comentários, algumas pessoas falavam da falta de sensibilidade de alguns dos desenhos feitos.
         Em respeito aos próprios jovens, esse texto defende a tese de que cabe humor sim. Humor não é necessariamente piada, escárnio. Humor, etimologicamente é líquido, é contínuo e contido e espírito. Humor é buscar algo de vivo, impulsivo, grandioso mesmo nas piores coisas da vida. E foi o que cada um dos chargistas, a seu modo, tentou fazer.
        Jean Galvão com certeza foi o mais feliz pois captou uma das coisas mais fortes de tudo que aconteceu. Sua charge mostra um pequeno mapa do Brasil em cima do local aproximado de Santa Maria no Rio Grande do Sul. Implicitamente ele quer dizer que o coração do país inteiro ficou condoído pelo que aconteceu. E foi isso!
       Apesar de o sofrimento ser enorme para muita gente, logo abaixo em termos de grandiosidade vem a comoção nacional a respeito do assunto. Chega a ser reconfortante imaginar a força que os sentimentos humanos podem somar numa situação dessas. Isso é humor no sentido mais fino e belo da palavra: uma verdadeira surpresa poética.
         Infelizmente, alguns momentos como esse podem acontecer. Os países que viveram uma guerra em seu território, como a Inglaterra, França e Alemanha viveram situações bem piores e sobreviveram. Só não se deve aceitar nunca que não se aprenda nada com isso. O pior é perder a oportunidade de melhorar as condições a partir de agora em outros locais como essa boite.
         Só existe vida pois existe a morte. Como disse Lulu Santos, não existiria luz se não fosse a escuridão. Nada é eterno. Claro que aqui foi muita escuridão de uma vez!!! Mas não quer dizer que a luz se apagou. Essas crianças estarão sempre vivas no corações e nas memórias de seus pais. 
         Parafraseando Cora Coralina, no lugar que ficou vazio com a ausência delas, pode se plantar um jardim ou fazer um ferro-velho, depende de cada um. Com certeza, cada um dos que agora repousam gostaria que os seus entes mais amados ficassem o melhor possível depois de suas mortes e não que ficassem destruídos.
         A morte é só uma continuidade, apesar de toda a dor que causa, da certeza do nunca mais. Para os que acreditam há a certeza de uma outra oportunidade, para quem acredita. Muitas pessoas não se perguntam onde estavam antes de virem à terra. E o não existir que havia antes, não haverá de existir de novo algum dia. Infelizmente ele acontece muito rápido.
        Claro que quem está de longe e não teve nem uma perda só pode teorizar em cima de suas próprias experiências o que as pessoas estão passando. Mas mesmo se baseando apenas em sua própria vivência é possível a muitos vislumbrar toda a dor sentida nas terras gaúchas.
         Talvez seja o caso de a natureza proteger com a extinção os seus entes mais queridos. Talvez algumas pessoas muito especiais não mereçam passar por todos os percalços que este mundo poderia lhes impor. Talvez, "Talvez" seja inerente à pobre condição humana. Só resta então, continuar a viver e tentar dar sentido a isso...
         Quanto às charges em si, não existe errar ou acertar nessas coisas. Quem critica negativamente, deveria se colocar no lugar do Marco Aurélio tendo que fazer uma charge, já contratada, numa situação dessas. Faz-se o que se pode, e afinal de contas, não foi tão ruim assim, imaginar os meninos e meninas sendo ensinados por Zerbini e outros mestres.
         Que o tempo traga luz e aconchego e que um belo jardim cheio de lembranças e bons sentimentos possa nascer e vicejar nos corações de todos que viveram essa perda. Em especial aos Pais, Parentes e Amigos. E em menor grau ao mundo que ficou com duzentas e tantas pessoinhas a menos... 

A burrice da moral de senhores e o racismo generalizado

    O racismo em geral já uma grande burrice. Assim como qualquer outro preconceito que possa privar alguém da companhia ou da interação com outras pessoas. Mesmo que seja apenas comercialmente, e até mais nesse caso, é bom aumentar o leque de possíveis diálogos para obter, inclusive, vantagens materiais.  Esse é o caso, por exemplo, das pessoas chamadas “seletivas” em que não lhes interessa a amizade de muitos.
    Mas no caso da Moral de Senhores, tratada por Nietzsche, várias características da pessoa vão fazer com que ela se isole na sua superioridade e perca oportunidades de crescer. A burrice maior é que ao se sentirem como melhores que os outros e como patrões essas pessoas perdem opções que lhes são ofertadas Deixam de receber informações importantes, de interagir, de vender, de comprar pois não conseguem acessar todas as boas oportunidades que estão à sua volta.
    É praticamente uma forma específica de racismo. Somente não escolhe cor nem origem das pessoas. Muito menos país. A suposta superioridade é incutida na alma da pessoa desde a infância de modo que não há outro caminho a seguir. Uma nota de empatia, coisa que é desconhecida para a maioria dessas pessoas: Não tiveram a opção nem a inteligência ou outros recursos para se comportarem de maneira diferente.
    Nietsche de certa forma já havia tratado dessas pessoas. Em certo ponto de sua obra ele diz que todo aquele que se julga muito perfeito é na verdade um limitado. Platão dizia que saber que não sabe é tão importante quanto o conteúdo apreendido o que implica, necessariamente, alguma humildade.
    Essa situação é mais comum do que se pensa. A maioria das pessoas que para em fila dupla. O cara do carro enorme, um “SUV” que ocupa duas faixas e ainda xinga se alguém buzina. O colega de trabalho que pensa poder mandar em um par seu sobre o qual não tem nenhuma autoridade. O vizinho de condomínio que não cumprimenta ninguém. As pessoas que se atrasam e não sentem a menor obrigação de se justificarem. A criança que grita indiscriminadamente e atropela a todos pelo caminho. Pessoas que desrespeitam a lei por puro instinto de autopreservação. Isto tudo são formas pelas quais a moral de senhor se manifesta.
    Quanto a crianças é importante ressalvar um ponto. Algumas dessas características de incapacidade de ver ou respeitar o outro são inatas. Isso se pode comprovar, por exemplo, nos tantos conhecidos casos de corrupção entre políticos. Em vários desses casos que aparecem na imprensa é possível identificar até três gerações de corruptos na mesma família. É como se os genes viessem impressos com a obrigação de serem ladrões e explorarem a ignorância do povo.
    Outra observação necessária é que os comportamentos aqui descritos podem ser totalmente involuntários. Trata-se de uma falta de o indivíduo ser preparado, ser avisado sobre os perigos da falta de empatia, de cortesia e mesmo de respeito com o próximo. Geralmente a criação da pessoa é aquela dali e a inteligência, como já dito, é insuficiente para constatar o erro.
    Em alguns casos, o instinto de superioridade está tão arraigado que TODOS, todos mesmo, que não estiverem em sua esfera de amizades são inferiores e não merecem atenção, respeito ou mesmo cordialidade.
    Reforçando a questão da falta de inteligência uma observação. Ao dirigir, por mais que seja egoísta, a pessoa sabe que deve respeitar algumas regras. Ela então se atém aos regulamentos visando única e exclusivamente o bem estar pessoal. No caso de quem vive sobre a moral de senhor a situação a burrice se constata em não transcender esse zelo para outras áreas da convivência. O ideal seria ver que as regras de cordialidade, apesar de não escritas, são necessárias para se ter uma existência melhor. Mesmo que seja em interesse próprio.
    Que “amizade”, no caso da maioria dessas pessoas, seja entendida como interesse. Difícil verificar qualquer resquício de humanidade gratuita num típico representante da classe dos senhores. Necessário se faz nesse ponto, honrar as boas e honrosas exceções. Infelizmente, até as boas obras de grupos mais abastados são passíveis de dúvidas sobre as intenções ali contidas. Boa parte das vezes, o que se constata é apenas mais uma forma de promoção pessoal procurando obter vantagens posteriores.    
    Claro que o poder aquisitivo manda nesses casos. Geralmente se trata de empresários, jovens que nunca precisaram trabalhar e outros seres humanos das classes mais abastadas. Nesse caso, uma ressalva: As limitações mentais, ou seja de inteligência, não escolhem classe social. Desse modo, um jovem que sempre mandou na empregada, no porteiro, na babá e até no cachorro não pode ser acusado de deliberadamente ser mau. Ele não teve chance de aprender a ser bom, a respeitar os outros ou de procurar empatia, ou seja, tentar se colocar no lugar do outro. Tão pouco tem, grande parte das vezes, inteligência para descobrir as oportunidades que está perdendo.
    Algumas dessas pessoas justificam os comportamentos de superioridade devido às experiências negativas durante as tentativas de interagir com outros. Isso é fato constatado e até aceitável em certo nível. Os pedidos de empréstimos que não são pagos, um trocado para o vale transporte aqui, outro pedidinho ali, e acaba ocorrendo abuso de verdade. O que se esquece nesse caso é que é possível dar um bom dia, boa tarde e até trocar algumas palavras sem que se deixe que o próximo abuse da concessão que lhe é feita. 
    Mais importante que tudo é se lembrar que a vida é uma só ao que se pode comprovar cientificamente até hoje. À parte as possibilidades levantadas por algumas religiões de que se possa viver de novo, a hora que se tem para vivenciar esse mundo é agora. É no presente que se pode buscar fazer algo para que, mesmo que seja no futuro, possa se enriquecer mais a experiência de vida. Nesse sentido, é importante abrir as portas, deixar correr o ar da amizades, da convivência e da interação.  Sempre se respeitando, mas em reforço desse respeito, buscando otimizar aquilo que se chama de Existência.