quarta-feira, 22 de maio de 2013

Trabalho doméstico e trabalho escravo

O trabalho doméstico da maneira que alguns patrões o veem não passa de um resquício do trabalho escravo. O assunto até já foi notícia, antes.
Basta conversar com alguém acostumado a ser patrão para ver como pensam. Principalmente os que sempre tiveram empregados em casa.
Todos acham absolutamente normal que ao acordarem, seja a que horas for, o café já esteja na mesa. Quanto à noite, o escravo doméstico só deixa o posto depois do jantar. Isso se não for o caso de ser babá, em que a jornada diária só termina após o último grunhido dos rebentos patronais.
Geralmente não se importam em como a pessoa mora distante e quantos ônibus irá tomar para encontrar seus filhos e cônjuges. O que realmente importa é a presteza no serviço.
Tudo conforme acontecia já no tempo da senzala em que as jornadas não tinham fim...
Não se preocupam em lembrar que a pessoa - palavra estranha - possa ter uma casa com filhos, um marido ou uma esposa, ou seja, uma vida para cuidar.
Basta andar na casa desses patrões e ver a área reservada aos escravos, isso é, empregados: Quartinhos mínimos, sem ventilação, banheiros minguados. É ali que se quer que sejam renovadas as forças para mais e mais jornadas de trabalhos forçados - todos os dias - em prol do bem estar da elite doméstica.
Interessante é a surpresa causada por uma empregada que pede demissão, mesmo ganhando mais de dois salário mínimos. Não interessa que a distância dos filhos os estejam levando à droga, à prostituição e à morte.
Na hora de demitir por causa dos novos direitos, a mesma desconsideração: 5, 10 ou 15 anos e até mais de bons serviços prestados são recompensados com demissão sumária e nenhuma negociação.
Qualquer argumentação que fizerem não vai negar o caráter desumano dessa escravidão contemporânea.
Mesmo quando são muito bonzinhos, esses novos senhores de escravos ainda tratam seus colaboradores como cidadãos de segunda linha:
a) reservam para seus filhos crescidos os trabalhos domésticos surgidos junto a parentes e amigos.
b) Encaminham esses jovens para trabalhos de menor potencial de salário.
c) Jamais envidam esforços no sentido de que os adolescentes possam vir a vislumbrar uma formação superior e um status que não seja o mesmo que viveram com seus pais.
Não, não se está pedindo que os empregados sejam tratados como parentes. Não se trata disso. A relação de emprego tem que ser mantida, até por causa da importância social dessas colocações. O tratamento da questão pode e deve ser feito de maneira objetiva à luz da lei. Aos trabalhadores domésticos deve ser oferecido o que a lei previr. Só não cabe a continuidade da ignorância sobre a sua  humanidade e os seus problemas.
Não!!!
Os direitos dos trabalhadores domésticos não são somente deles. 
A falta de dignidade, ainda que não reconhecida, também parte de quem a impõe a outras pessoas.
Combatendo-se a imoralidade com a criação de uma lei mais isonômica, todos ganham.
Ganham os empregados por terem seus direitos reconhecidos.
Ganham os patrões por se diferenciarem, mesmo que à força, dos senhores de escravos dos engenhos.
No fim do túnel, mesmo o pobre e indigno burguês que nunca viu nem a si mesmo como pessoa, pode parar e pensar nas aulas de ciências e se assustar com a constatação de que é gente, de que o empregado é gente e de que ele vive num mundo que não é baseado apenas em cifrões e cotações.

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